domingo, 6 de outubro de 2013

CANSEI, PRA SEMPRE, DO VAZIO



Muito cansada...
Cansada de gente que não fala com linearidade, prefere jogar piada, soltar sarcasmo no ar. 
Espicaça, ironiza, debocha, cerceia, diminui, desvaloriza e atropela os que ousam andar no mesmo tempo / espaço que pensa lhe pertencer com exclusividade.
Acha que é o umbigo do mundo, e que o tempo só corre pra lhe estender o tapete vermelho.
Não sorri sincero, estica a boca com certa má vontade, quase careta em tentativa de sorriso.
Ama com palavras,mas sem atos, sem gestos, sem abraços, sem presença,
- de mentirinha - porque lhe disseram, num pedaço do passado, que era preciso amar pra 'parecer' humano.
Então estaca na infância, independente de cronologia, e segue fingindo que aprendeu a lição.
Perde minutos preciosos na espreita de uma falha do companheiro de estrada, caçando defeitos e imperfeições como se pulgas fossem.
Deixou a alma em algum canto da jornada, caminha vazio, indolor, sem consciência, portanto, da dor do outro.
Quer padronizar e só aceita os que rezam na mesma cartilha.
Desarma nosso sorriso com carrancas de dia infeliz.
Não enxerga a beleza das flores, a meiguice dentro do olhar de um cão, a ternura da conversa da criança, a pureza da simplicidade.
O espetáculo diário do sol, ensanguentando a tarde na despedida do dia, preparando o parto da noite, a caravana de estrelas acompanhando a lua.
Afirma 'não gosto' para tudo o que não está na sua lista de prioridades.
Alfineta, ironicamente, pensares diversos, como se fosse o detentor da única verdade existente.
Não entende que por mais sinuoso que seja o caminho vizinho, também é caminho, também vai desembocar em algum mar de serenidade, um dia.
Cansada, principalmente, de quem não sabe ler o poema da vida, e vê como de pouca valia o esforço de quem, ao seu lado, tenta embelezar o mundo, calado, fazendo, com as mãos, a parte que lhe cabe,
porque vida, seja de que tipo for, é poesia da melhor qualidade.
Tão cansada que poderia fechar os olhos agora e abrir do outro lado, sem susto, sem sobressalto,
sem remorso e sem despedida.


[elza fraga]

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