sábado, 19 de março de 2011

O VAZIO

...
Andei, pé ante pé, vagarosamente, arrastadamente.
Sentei a beira da cama, desfiz o nó do cabelo, deixei que caísse,
escorridamente, maciamente, sobre as costas nuas.
Senti com os dedos a maciez do próprio rosto, contornei a curva
do queixo, desci ombros e seios no contato morno e pegajoso, mistura
de banho, hidratante e perfume.
Sólida figura no espelho. Real e triste. Desarmada, desamada, solitária,
apesar do macho a ocupar grande parte do leito.
Pensei com meus botões: homens grandes não são bons. Nem os pequenos
e nem os médios, me respondeu a razão que andava ausente nestes dias de
frio e volúpia.
Voltei a excursionar corpo afora, buscando achar onde estava a sanidade se
Escondendo.
Em que prega de pele, em que fio, em que pêlo.
Nada, a não ser a culpa do pecado, para me responder, aumentando a sensação
de vazio.
Adormeci no fim da madrugada, quase morte, quase sono,
pra acordar pra mais um dia de vazio intenso.