Ela passara a vida a mudar de dono, escrava vendida por tostões de vida.
Primeiro o pai, chicote sempre a mostra e proibições a vista.
Numa infeliz e inútil tentativa de alforria veio o marido.
E o que lhe parecera cor de rosa rapidinho virou cinzas.
Só sobrou a lembrança do bolo e da festa, depois foram noites insones de medo.
Imprevisível este novo dono, ela nunca conseguira adivinhar antes
pra pular fora dos bofetes que cada vez ficavam mais frequentes e duros.
Aprendeu rapidinho a receita da liberdade:
Vidro moído na cervejinha do final de tarde, todos os dias, religiosamente.
Um dia o pobre cuspiu sangue, levaram pro hospital, mas o mal já estava feito
Primeiro o pai, chicote sempre a mostra e proibições a vista.
Numa infeliz e inútil tentativa de alforria veio o marido.
E o que lhe parecera cor de rosa rapidinho virou cinzas.
Só sobrou a lembrança do bolo e da festa, depois foram noites insones de medo.
Imprevisível este novo dono, ela nunca conseguira adivinhar antes
pra pular fora dos bofetes que cada vez ficavam mais frequentes e duros.
Aprendeu rapidinho a receita da liberdade:
Vidro moído na cervejinha do final de tarde, todos os dias, religiosamente.
Um dia o pobre cuspiu sangue, levaram pro hospital, mas o mal já estava feito
e sacramentado.
Ela se imaginou agora livre para todo o sempre, amém!
Mas esquecera apenas um detalhe, o canalha havia deixado um canalhinha
que ele próprio adubara nas longas tardes de ensinamento.
E o que era projeto virou homem, mais parecido com o falecente impossível.
Nunca mais que ela teve pé na estrada. Desistiu.
Só balançava a cabeça em sinal de aceitação pra este último
e derradeiro dono.
Desaprendeu o não, desaprendeu a luta, desaprendeu a luz.
Cansou de lutar contra as correntes e se deixou ali no escuro, parada,
morta em vida.
E se deu conta que aprendera tarde demais a obediência.
Mas esquecera apenas um detalhe, o canalha havia deixado um canalhinha
que ele próprio adubara nas longas tardes de ensinamento.
E o que era projeto virou homem, mais parecido com o falecente impossível.
Nunca mais que ela teve pé na estrada. Desistiu.
Só balançava a cabeça em sinal de aceitação pra este último
e derradeiro dono.
Desaprendeu o não, desaprendeu a luta, desaprendeu a luz.
Cansou de lutar contra as correntes e se deixou ali no escuro, parada,
morta em vida.
E se deu conta que aprendera tarde demais a obediência.