domingo, 17 de janeiro de 2016

DESABRIGO

 
 
Vontade de sumir ou me encostar num canto qualquer e deixar a vida passar por mim, sem susto, sem ventania, sem tempestade...Ao abrigo da sombra de alguma árvore frondosa, abraçada a galhos que me escondam do mundo.Só que não existe mais lugar seguro sob o céu desse planeta, destruíram as trincheiras e nos deixaram expostos a (má) sorte. Nos desarmaram, nos des-amaram, nos apequenaram, nos nivelaram abaixo do zero por cento. Demos traço, não mais somos notícia, somos os exilados da terra, mesmo que continuemos vagando sobre ela não marcamos ponto ou presença.
Somos a soma de vários nada, ninguém escuta, entende ou respeita nossas vozes berradas, nossos gritos de angústia. A estrada continua, mas nós abdicamos dela, nos arrastamos apenas por hábito, ou por costume, ou por empurrões vindo da turba que segue nossos passos, tão ensandecida e "alheada" como seguimos nós.
E a cada curva, a cada esquina, a cada encruzilhada, acordamos uns poucos momentos pra tentar acertar a rota, mas é tão difícil, é tão cansativo, é tão escuro o caminho avistado que só nos resta procurar a sombra inexistente da árvore que tira a vida e dá o descanso.
Que outros façam por nós o acerto, o retorno as origens, a volta pra casa... Durmamos!
 
[elza fraga]