sábado, 22 de junho de 2013

ESPORTES NACIONAIS


[PESQUISAS APONTAM FUTEBOL EM TERCEIRO LUGAR] 

O Brasil está uma maravilha, o povo está muito feliz, está nas ruas porque trabalha pouco e ganha muito bem, sobra tempo pra passear pra lá e pra cá nos principais centros do país, e apanhar da polícia, o novo esporte predileto, chegou forte e parece que fica em primeiro lugar, desbancando o futebol, antes idolatrado, salve salve!
Todo brasileiro agora entende de política como ninguém, e não aceita que o outro seja, também, um expert no assunto.
A exibição de conhecimentos técnicos chegou até as redes sociais, num fenômeno nunca antes visto no país.
Ninguém mais tem partido político, o partido agora [sem registro ainda, porém colhendo assinaturas num frenesi de dar gosto] é o SQP - salve-se quem puder.
Não é de esquerda, centro esquerda, extrema esquerda, direita, extrema direita, centro direita, centro só e simplesmente; é um partido meio liberal, sem programa lógico e concreto, sem estatuto entendível, com simpatizantes saindo pelas beiradas e pingando nos hospitais públicos, após honrosos combates pelo direito de fundar o seu próprio partido.
Porém, tem muitos outros, listei, nem vou colocar aqui, mas garanto que são pra todos os gostos, 20 partidos com processo de registro nacional em tramitação no TSE... Sabemos que não vingarão, ou será que...?
Pode até ter mais e minha pesquisa estar desatualizada, porque só sei do meu analfabetismo nessa área, dou pitacos porque parece que esse virou o segundo esporte nacional, deixando, de vez o futebol num nada honroso terceiro lugar.

Nada como a "se metência" em assuntos pátrios, mesmo sem entender nadica, pra trazer de volta o orgulho de ser brasileiro e o ego, óh, do tamanhão do território nacional!

[elza fraga]


segunda-feira, 17 de junho de 2013

O DRAGÃO DO VILAREJO


[Da série histórias para acordar crianças]

Era uma vez um vilarejo perdido nos confins do mundo.
Lá havia um dragão muito feio, sabia da sua força e da velocidade do fogo que expelia pelas ventas.
Dominava a região pelo medo.
Ninguém podia contestar suas determinações, suas ordens eram prontamente obedecidas e os tributos cada dia ficavam mais pesados.
Os que não podiam mais pagar eram exilados pro campo da fome e da mão estendida.
Algumas vezes, para parecer magnânimo, levava uma ou outra bolsa de alimentos até os arredores do campo e as abandonava por lá.
Era alimentado pelo sangue dos súditos do vilarejo, que cada vez se enfraqueciam mais.
Certo dia os habitantes começaram a se agrupar e a perceber que eles eram em maior número numa proporção tão inimaginável, que poderiam armar uma revolta e tentar dominar o dragão, quem sabe exilá-lo para todo o sempre?
E os mais sonhadores, os mais cansados de tanta espoliação, os mais jovens, os mais fortes, resolveram que havia chegado a hora certa, pois estava programado um torneio na arena central, com vários jogos.
Provavelmente o dragão ia se distrair, assistir um pouco do torneio, e depois, quem sabe, até tirar uma boa soneca?
Se muniram de esperanças, se armaram de palavras de ordem e saíram em colunas compactas. Partiram para a luta.
Mas os seus gritos de revolta acordaram o gigante, que, não sendo tolo, tinha já formado seu exército de dragãozinhos, tão perfeitos em maldade quanto ele.
E, esse exército, munido de suas ventas de fogo e de seus hipogrifos de estimação, criaturas voadoras que se alimentavam da carne do povo, responderam num massacre inesperado e triste.
Acuaram os habitantes do vilarejo no parque central, bem ao lado da arena do torneio.
Até quem estava apenas passando inocentemente pelo local sofreu a perseguição implacável.
E aí o povo do vilarejo aprendeu a dura lição:
Dragão não abandona o poder depois que o adquire, e é de difícil controle, porque prolifera com rapidez e esconde sua prole até o momento de crise.
Até hoje o povo sonha com o dia em que, num milagre, apareça um herói montado num centauro feroz, corte a cabeça do dragão num golpe de espada de aço e fogo, pois só essa espada mágica consegue penetrar entranhas de dragão, e prenda seu exército no castelo-caverna para todos os séculos.

[elza fraga]

HISTÓRIA P'RA BOI ACORDAR


[Em histórias para crianças despertas]
 

Estou pensando no que leva gente normal a mudar o comportamento num piscar de olho.

O povo está me lembrando a história do gado que foi sendo espremido em curral por tempo além da conta. Cada dia se jogava mais boizinhos, amansados, pra dentro do dito cujo.
Aí, um boizinho pensador, meio filósofo, falou pro outro :
"_Olha, se a gente juntar uma meia dúzia, partir pra cima do cercado, é bem capaz de derrubarmos o curral inteiro. Quem sabe até um belo estouro da boiada não se consegue?"
No que o outro respondeu de imediato : "_Já é !"

E, quando se abriu o olho, a boiada estava solta, mas furiosa por ter descoberto que a liberdade era questão de união, inconformados pela demora com que a ficha caiu, partiram com tudo, pouco se importando com as consequências.
Perderam o medo de respirar ar puro nos prados.

E foi bem assim que aconteceu.
Tomaram gosto pela liberdade e agora a querem de qualquer maneira, nem ligam se, pra isso, algumas bordoadas estiverem incluídas no pacote.
Claro que ainda vão se deparar com os bois do contra, os que querem ficar deitados a sombra dos ipês da vida, nas suas seguras redes.
E também com os que são contrários a mudanças, por medo, preguiça, desmazelo, tédio ou burrice.
E ainda os que, em nome da ordem, combaterão, corpo a corpo, os libertos.

Afinal nenhuma boiada é feita só de pensadores.
Mas os que pensaram, programaram, desenharam uma estratégia e a colocaram em prática, serão vistos como os que ditarão as novas regras.
Se pro bem ou pro mal só o tempo dirá, só o tempo dirá.
Como também só o tempo nos mostrará quem foi o primeiro boizinho que notou a fragilidade da cerca e começou a cooptar adeptos para a derrubada.

[elza fraga]