quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

DIA DE CÃO EM NOITE DE ESTRÉIA




Ufa! Finalmente se fora, carma acabado pensou, porque até os tolos e maus pensam.
Fez o papel que lhe cabia - viúva chorosa partida de dor - artista das boas que sempre foi.
Deu a volta, vagarosamente, pelos fundos da casa, pisando como gato manso que não quer ser notado até tudo estar do modo desejado.
Entrou sorrateiramente no primeiro salão de beleza que avistou,  trançou os cabelos, fez maquiagem, não podia fazer feio para a festa da despedida.
Com a cara de sofrimento intenso novamente atarraxada, refez o caminho de volta à cena mais importante do seu torpe teatro.
Também que péssima ideia desse seu povo, mania de morrer pela manhã quando todas as caras ainda estão amarrotadas!
Agora era só desconstruir os outros seres presentes, mesmo que pra isso a mentira e a calúnia tivessem que entrar no roteiro, 
afinal todos coadjuvantes e elenco de apoio, sem fala. Que os tolos acreditassem, e acreditaram! -  e pagassem o ingresso.
Era ela a protagonista, boa ou vilã não importava, só importava ter o papel principal e sair bem na selfie.

O papel de bruxa lhe caiu como uma luva.  
Ainda vai viver um bom tempo desses dividendos, até a máscara cair, 
todas as máscaras um dia caem.
Só que a peça acabou e o pano fechou
Sem aplausos.