quinta-feira, 18 de abril de 2013

CRIANÇA TEM FARO



Criança tem faro, dizia a mãe em suas reclamações.
Farta em maternidade, tinha sete, sabia do que falava!
Elas sentem o cheiro da sua fragilidade e atacam com os pedidos, um tal de mãe quero isso, mãe quero aquilo.
Sentem o cheiro da sua brabeza e se escafedem, só espiam de longe, medo de broncas nem tão indevidas.
Na sabedoria das avós, mães em dosagem maior, a gente não sabe porque está dando o carão, mas as crianças sabem porque estão levando.
Sentem o cheiro da sua sensibilidade e se aconchegam pros cafunés. Aí tudo podem, e um avisa ao outro que a mãe hoje está pra conversê.
Sentem o cheiro do seu medo e se acuam, medo contagia como doença das brabas. Se encolhem, ficam minúsculos pontinhos, só olho de fora!
Sentem o cheiro da sua animação e se vestem de festa. A algazarra come solta. A vida fica toda colorida como se, num passe de mágica, todos os lápis coloridos caissem sobre o mundo e rabiscassem tons alegres e os nem tanto.
Sentem o cheiro da sua inquietude e espiam pela janela a chegada dos faltosos: "Cadê o pai, manhêêê, por que 'tá demorando?"
E aí, um belo dia, elas crescem quando menos se espera e a mãe desespera.
Cadê as crianças que estavam aqui?
O gato comeu!

Só deixou gente grande, tudinho sem faro, em seus lugares.
E a falta da molecada trabalhenta rói as tripas, até largar a mãe no osso, pedindo arrego à vida e remexendo o baú do passado atrás da gurizada... Querendo tudo de volta.

[elza fraga]

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