terça-feira, 5 de março de 2013

ARRUMANDO AS MALAS



Abriu a janela, teve medo dos raios... Fechou e cerrou cortinas.
No inferno do quarto quente se desejou morta, achou uma tarde ideal pra se morrer de repente.
Ninguém ia sentir muito a sua falta.
Talvez demorassem semanas a perceber a ausência.
Mas a morte não vem célere, ao primeiro chamado.
Ela foge de quem a busca e caça os fugitivos.
Muito louca esta tal de morte, e ingrata ainda por cima.
Por acaso não sabe que larga retalhos de pele e ossos, que nem mais gente é, esquecidos, nesta sua seleção macabra?
Abraçou os ossos do joelho, quase feto, tentando voltar ao útero do universo.
Nada mais lhe era de gosto, nem verso lhe fazia gozo. Nem de ler, nem de escrever!
Só queria um pedacinho limpo de morte, uma canção leve pra ajudar o transpasse, mãos que a segurassem no salto por sobre o abismo, ou asas, quem sabe?
E a ausência de dor por toda a eternidade.

Decidiu.
Abriu a janela, inventou as próprias asas, e fez o serviço que a louca da morte vinha protelando por castigo ou preguiça.
E voou em busca de abrigo, agora novamente livre de amarras.
Pronto, já podem chegar os abutres pra divisão do festim.
Tim tim!

[elza fraga]

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