sábado, 24 de abril de 2010

O ASSALTADO

Andava torto, encurvado, sentia o morto que estava querendo saltar boca a fora, o gosto de sangue e vômito, a lucidez cada vez mais longe, as idéias cada vez mais embaralhando e pesando, empurrando a cabeça pra mais perto do chão.
Nem sabia de onde havia partido o primeiro soco, nem sabia porque logo ele escolhido entre tantos outros. Agora não tinha mais tempo pra se preocupar com isso.  Precisava de ajuda. Alguém pra segurar sua alma no colo e embalar cantando as antigas cantigas da mãe que se fora quando ele ainda precisava tanto.

E aí, longe, veio se aproximando o primeiro acorde:
-Dorme criança que a dor não alcança quem o sono acalanta.
Mais alto um pouquinho:
-Dorme criança que a dor não alcança quem o sono acalanta.

Agora cada vez mais perto, cada vez mais perto,
até que a viu, abriu os braços e caiu.

Dormiu enquanto a canção continuava, pro resto da eternidade,

enfim a paz.

(Elza Fraga)

2 comentários:

  1. Muito bom, Elza! Conto que arrebata a gente, como com a personagem dele.

    Beijo.

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  2. Larinha, menina,
    estou tentando tirar o atraso, foram tres meses parada, sem poder escrever. Ainda não posso abusar muito não, mas sou teimosa como uma mula, rsrs

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