terça-feira, 20 de abril de 2010

A NOITE EM QUE O MEDO EMIGROU

(Prosa poética)

Ofendia, humilhava, dava só o que sobrava
e porrada
e ela vivia dia a dia dos sobejos.
Até que a ousadia a rebelara, se ajoelhou pediu um beijo
um simples beijo

o chute veio insuspeitado pegou no queixo
dor e estrago
inaugurado, sem pompa e gala, novo defeito na cara
já tão marcada, tão amansada no medo

e num levante inesperado de tanta vida esgarçada,
desgraçada, esfiapada, vê a garrafa [cheia].
Bate num rítmo ligeiro bóim bóim bóim bóim
até arrebentar a veia e o sangue inundar o olho surpreso

até acabar a dor da raiva da rejeição de todo o dano do desengano
de tanto ano que ficou pra sempre perdido no tempo
até acabar todo o ar que preenchera aquele pulmão
desumano

agora o vento
levara o medo

E lavara as mãos.

(Elza Fraga)

13 comentários:

  1. Tão forte, que me deixou silente.

    Bjs

    ResponderExcluir
  2. Lou, querida minha,
    não sei o que aconteceu comigo depois desta internação, rsrsrs,
    voltei tão dramática, tão mórbida, tão passional
    que até me assusto.
    Acho que eles [os homens de branco] quebraram alguma coisa importante que fazia meu coração funcionar mais mansamente.
    Ou me fizeram uma lobotomia e me lerdaram de vez, rsrsrs.
    Bitokitas!

    ResponderExcluir
  3. aproveite e extravase!... - em poesia! rsrs

    Bjs de contentamento por vê-la retornando.

    ResponderExcluir
  4. p.s.: só falta agora, a dona da pensão. rsrs

    (Diz pra ela que tô com saudade)

    ResponderExcluir
  5. Se a dona da pensão for a D. Fatima, rsrsrs,
    pretendo ligar pra ela amanhã,
    isso é, se ela deixar o telefone carregado, só vive sem bateria, rs.
    Ela ainda está no face gerenciando por mim, ainda não estou dando conta de tudo. Até porque preciso escrever pra compensar os meses parada.
    Entrei devagarinho, tô comendo a sopa pelas beiradinhas, quero voltar pro hospital nunca mais!

    ResponderExcluir
  6. Forte, visceral... um chute no rosto.
    Muito bom, Elza. Adorei.

    ResponderExcluir
  7. Oi, Luciano, brigadim. Ando meio num tom desafinado, sentimentos controversos, até em prosa, desculpe o trocadilho infame, rsrsrs.
    Mas já, já, o humor melhora e volto a falar de estrelas e fadas modernas, rsrs.
    Bitokitas e volte sempre!

    ResponderExcluir
  8. Brigadim, minha queridinha. Um "demais" vindo de você me faz ganhar o dia!
    Bitokitas e parabéns pelos 50 aninhos de Brasília.
    Sabe que ela nem aparenta a idade?
    Deve usar creme importado, só pode, rsrsrs.

    ResponderExcluir
  9. Certeiro feito rejeição.
    Sua poética é forte.
    Bjo
    :)

    ResponderExcluir
  10. Oi, Graça. Prazer Vê-la aqui no meu cantinho
    de contos.
    Volte sempre que tiver um tempinho.
    Tem contos mais amenos abaixo deste, rsrs.
    Um dia eu já fui mais bem humorada na arte
    de escrever.
    Hoje em dia guardei o bom humor só pra vida, rs.

    Bitokitas e dia de luz.

    ResponderExcluir
  11. o vento vem carregado de estranho mister, leva e lava num mesmo instante, ventos fortes. abraço

    ResponderExcluir
  12. Oi, Assis, desconfio que não existe nada que um vento forte não conserte. Quando ele acaba de passar, correndo, como é do seu feitio e gosto,
    a paisagem fica toda mudada.
    Ele leva folhas, limpa as árvores, lava a rua com seu sopro.
    Taí, eu gosto do vento, rsrsrs.
    Bitokitas, brigadim pela visitinha e volte sempre que quiser.

    ResponderExcluir