sábado, 24 de abril de 2010

A CARRANCUDA DO TERCEIRO ANDAR

Acordou do avesso, dava pra se ver de longe pela cara amassada.
Perdeu a hora, perdeu o ônibus, perdeu o café da manhã farto
servido  pela morena, empregada da carrancuda  do terceiro andar.
Ah, se um dia a velhota sonhasse o que a empregada lhe oferecia por entre
bolos e biscoitos.
Aqueles seios fartos debruçados no balcão, quase saltando fora do decote,
fazia seu dia suportável.

Mas logo naquele dia a megera esquecera de acertar o despertador.
E aí dele se cobrasse alguma coisa, era um desparrame de lágrimas,
de eu não sirvo pra nada, sou uma inútil nesta casa, pra você era melhor
eu já ter morrido...
Desta ultima parte ele gostava e começava a imaginar a víbora dura,
no caixão, e ele fazendo as honras da casa, servindo cafezinho.

Claro que com a ajuda da empregada da carrancuda do terceiro andar!

Sonhar com este dia fazia que as horas passassem mais depressa.

Num repente o sonho ficou amargo, uma sensação de náusea, uma dor
esquisita no ombro. Nem deu tempo de dar um ai. Caiu ali mesmo.

A noitinha, lá estava a megera,  fungando em cima do caixão que não
era pra ele, servindo o cafezinho que era pra ele servir,

com a ajuda da empregada da carrancuda do terceiro andar.

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