segunda-feira, 17 de junho de 2013

O DRAGÃO DO VILAREJO


[Da série histórias para acordar crianças]

Era uma vez um vilarejo perdido nos confins do mundo.
Lá havia um dragão muito feio, sabia da sua força e da velocidade do fogo que expelia pelas ventas.
Dominava a região pelo medo.
Ninguém podia contestar suas determinações, suas ordens eram prontamente obedecidas e os tributos cada dia ficavam mais pesados.
Os que não podiam mais pagar eram exilados pro campo da fome e da mão estendida.
Algumas vezes, para parecer magnânimo, levava uma ou outra bolsa de alimentos até os arredores do campo e as abandonava por lá.
Era alimentado pelo sangue dos súditos do vilarejo, que cada vez se enfraqueciam mais.
Certo dia os habitantes começaram a se agrupar e a perceber que eles eram em maior número numa proporção tão inimaginável, que poderiam armar uma revolta e tentar dominar o dragão, quem sabe exilá-lo para todo o sempre?
E os mais sonhadores, os mais cansados de tanta espoliação, os mais jovens, os mais fortes, resolveram que havia chegado a hora certa, pois estava programado um torneio na arena central, com vários jogos.
Provavelmente o dragão ia se distrair, assistir um pouco do torneio, e depois, quem sabe, até tirar uma boa soneca?
Se muniram de esperanças, se armaram de palavras de ordem e saíram em colunas compactas. Partiram para a luta.
Mas os seus gritos de revolta acordaram o gigante, que, não sendo tolo, tinha já formado seu exército de dragãozinhos, tão perfeitos em maldade quanto ele.
E, esse exército, munido de suas ventas de fogo e de seus hipogrifos de estimação, criaturas voadoras que se alimentavam da carne do povo, responderam num massacre inesperado e triste.
Acuaram os habitantes do vilarejo no parque central, bem ao lado da arena do torneio.
Até quem estava apenas passando inocentemente pelo local sofreu a perseguição implacável.
E aí o povo do vilarejo aprendeu a dura lição:
Dragão não abandona o poder depois que o adquire, e é de difícil controle, porque prolifera com rapidez e esconde sua prole até o momento de crise.
Até hoje o povo sonha com o dia em que, num milagre, apareça um herói montado num centauro feroz, corte a cabeça do dragão num golpe de espada de aço e fogo, pois só essa espada mágica consegue penetrar entranhas de dragão, e prenda seu exército no castelo-caverna para todos os séculos.

[elza fraga]

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