segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O EXÍLIO DA LOUCURA...

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Estou aqui vivendo neste mundo chamado futuro, cheio de esperança, onde brilha sol durante todo o ano e não existe uma linha limite entre as estações: É sempre primavera. Sol e flores, brisa e cheiros, cio e gozo, riso e canto... Uma terra que só eu conheço, só eu enxergo, só eu habito, só eu sinto as suas montanhas, mares, florestas... Danço todos os dias, o dia todo, com raios de sol, parceiros, por entre jardins encantados de cores. Sinto um pouco a falta da chuva, não nego... Penso em como ficaria linda, molhada, cabelos escorrentes pelos ombros, pingando gotas transparentes de luz. Durmo só pra sonhar com água caindo do céu em cima do meu corpo quente. E, num surpreso estranhamento, sempre acordo com saudades do não vivido! Também sinto falta de quem me dê ordens, coordenadas, brigue comigo pelas madrugadas, me sacuda, me balance, depois me puxe, me beije, me arraste pelas calçadas, me ame pelas beiradas de ruas escuras... Mas com isso nem ouso sonhar, é expressamente proibido pelas regras... Do outro lado da porta que divide os mundos existem os que lêem a alma!
Estou num  lugar entre o fim do mundo e a terra do Nada, mas tão atrasado, tão atrasado, que, nele, ainda nem inventaram o amor, o sofrimento e a morte. Acho que é o paraíso, apesar das grades e dos cadeados que me impedem de voltar pro lugar comum, com gosto de sangue, de onde vim originada. A mudança foi definitiva, uma espécie de exílio, mas se fecho os olhos ainda posso ouvir as últimas palavras escutadas, cada vez mais longe, cada vez mais fracas: Vai, atravessa a porta, é pro seu bem... é pro seu bem... é pro seu bem...
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Seria até verdade, não fosse esta maldita solidão...
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(Elza Fraga)

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