quinta-feira, 29 de dezembro de 2016



Enquanto eu acariciava com jeitinho suas costas em afagos ‘pré-tensão’ ele me veio com esse papo estranho de massagem tântrica.
Pergunto, por não saber mesmo, que droga era isso.
E ele responde, com ar meio safado, que é uma verdadeira droga mesmo, quem faz vicia, quem recebe vicia, e todo mundo fica feliz pra sempre vendo estrelas nas calçadas, fadas e duendes passeando no arco iris das paredes do quarto,  e nuvens - em formato de coraçãozinho do facebook, desenhando o céu da tarde.
A doida aqui procura saber mais, corre atrás. Entra num curso pela internet.
Quem nunca tentou agradar a parceria atire a primeira ironia.
E eis que descubro algumas amigas de redes sociais no curso, bem, então isso deve ser negócio pra lá de sério, matuto com meus botões.
Pago o preço, pego o material em E-book, pronto, vou ser especialista.
Se funcionar como promete as instruções depois eu conto pra vocês, sucintando - claro, descobri que o negócio é coisa pra se deixar detalhes em absoluto sigilo.
Estou quase me formando, doutora com diplomação e canudo, se é que me entendem...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

NA TERRA DO AQUI DENTRO



Aqui dentro do meu peito o terreno é estranhamente sombrio e triste, todo tomado de ervas daninhas.
Cresce só o mato, sem planejamento, sem semeadura, sem plantio de galhos, sem mão diligente e dócil a acarinhar o chão tão fértil.
Os torrões de terra aparecem nas raízes, encharcados.
Muito choro rega a indomável hera.
Muito choro rega cada pedacinho de chão.
Muito choro chorado pra dentro no escuro existente,  em leitos inimigos feito de folhas amarelas, que não trazem mais descanso de sono, não trazem mais acalanto, não trazem mais conforto, só entendem mesmo de pranto e de estender nas costas o duro da pedra.

Não há cuidado do proprietário em aparar a grama, arrancar as ervas más, fazer semeadura de flor. Deixa que cresçam espinhentas e malévolas autônomas quimeras, formando colunas onde não entra a claridade de um sol matinal, ou de uma estrela piscante, ou de um clarão de luar em frias madrugadas nascentes.
O único interesse é desbravar um minúsculo pedaço, armar a rede no espaço menos denso, se balançar um tanto, descansar até bastar, se fartar da seiva que a terra ainda oferece.
Cada vez mais rara seiva, cada vez mais agreste seiva, cada vez mais murchante seiva.
Dar pausa pra sonhar um pouco, enredar as pernas, nunca a alma, se revigorar para a busca do que nem sabe onde está, ou se existe em um outro canto.
E então mais triste do que triste era partir pra outro terreno, outra terra.
Partir que a vida é uma estrada, que leva muitas vezes a lugar nenhum.
Sem entender que nesse território aqui é que mora o viço e o vício, a consolação e a ternura, a amargura doce e a urdidura, a paz e o suplício.
Sem entender que é aqui nesse regaço cheio de mato e sombra que o sol se fará nascer num dia de festa, e as cores dominarão os muros, e as flores poderão sim invadir tudo, e tudo voltará a ser então como era.
Sem entender que é só ele chegar e entrar, dominar, esquentar, sorrir, plantar.
Estar presente em toda a trajetória.
Inventar a mais doida e linda história que alguém sequer pensou em escrever.
Esquecer as vielas paralelas, a chamada dos pássaros lá fora, as flores que se abrem convidando em outras terras, a vida que estua em carnes belas, a juventude lhe pedindo mais e mais ausência do meu regaço que é o seu recanto, do seu lugar que é o meu profundo peito apertado, e quente, e aconchegante.
Esquecer os outros colos, outras pernas, outras matas, outras regas.
E se deixar ficar na rede agora eterna.
E sorrir, e cuidar, e fazer do indomado mato um jardim, e semear seus braços no ‘aqui dentro’, e enfim plantar o seu único jardim
em mim!

[elza fraga]

sábado, 26 de novembro de 2016

E EM VERDADE VOS DIGO SÓ AQUI EU ACHO ABRIGO.


Ontem, depois do susto de uma queda bruta de pressão que me deixou fora de combate por todo o dia, me peguei avaliando o que temi durante o episódio, se é que foi temor o que senti.
A morte com certeza não foi, já estive na presença dela por meses seguidos, época em que desejei que ela vencesse a batalha, por puro cansaço de lutar com coisa tão ardilosa. Mas foi só dar meu aval na forma de “ok, você venceu, pode me empacotar pra viagem”, ela simplesmente, caprichosa que só, me deu as costas e foi cantar noutra freguesia. Vai se entender a dona Morte... Mulheres, bah...
Então o que me causou o desconforto e a apreensão?
O fato de não ter feito, ainda, nem a metade do que me programei?
Ou será que foi esse meu amor enorme a natureza com seus pássaros cantantes e flores coloridas?
Talvez essa inquietude de largar uma vida que está correndo nos trilhos certos pra me arriscar do outro lado do véu, onde nem sei como está minha caderneta de débitos e acertos?
Ou pena de abandonar os que amo, mesmo que não me voltem amor na mesma medida?
Descobri que o que me deixa nessa fissura de aqui permanecer é a descoberta que a vida só começou a ficar gostosa agora no final do jogo, aos quarentinha do segundo tempo, o juiz quase apitando o final e eu em campo, com pernas ainda pra correr mais noventa minutos, prorrogação e pênaltis.
Uma dolorida pena de ter que largar tudo que me é familiar pra buscar outro horizonte, outro time, um outro modo de poetar.
Quem me garante que acharei nuvens tão fofas quanto a minha cama?
Estrelas tão brilhantes quanto meus amigos de abraços?
Um cantinho lindamente azul como o planetinha que me abriga, com música de violão bem tocado, poesia em recitais movimentados e de qualidade, e um jardim só pra mim?
E os abraços? E os poemas? E os afetos?
E as flores, os beija-flores, os dias de sol, a harmonia das cores do ocaso, a mansidão do mar me lambendo as pernas, as crianças e sua doce algazarra?
Como virar as costas e largar isso sem derramar nem uma lagriminha tímida e disfarçada?
E aí me peguei pedindo mais um tempo, por pequeno que seja, mas completinho de tudo que amo, cheio da beleza que aprendi a admirar pelas manhãs e tardes de sol, pelas madrugadas de lua e estrelas, e até pelos dias de água caindo do céu, me escorregando pela cara, me fazendo sorrir ao sentir o gostinho bom da chuva na boca.
Não é medo, dona Morte, nem respeito, nem covardia, nem nada disso que se prega de rótulo, é só amor mesmo por essa terra que me deu a vida e que me dá poesia dia sim outro também.
Quem me garante que o planetinha luz, lá do outro lado, tem passarim cantando, flor abrindo em amarelo ou nuvem brincando de esconder o sol?
Se tiver pode marcar a passagem, se não tiver me deixe por aqui mesmo, aquietada no meu canto, com meu amor, minhas canções e poesias, meus abraços apertadinhos e minha mania tola de correr atrás de luz.

[elza fraga]

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

DEPOIS DO SUSTO A BONANÇA


Agora serei para sempre politicamente incorreta.
Quero da vida só o lado divertido. Aquele ladinho que faz cócegas nos flancos, se é que me entendem, que causa frisson, que faz a alma gritar ‘up’ no susto do arrepio.
Nada mais de comportamento pra tirar um dez, ou um A com louvor.
Prefiro o fundo da sala, a turma dos que não estão nem aí pra compromisso. O lado leve, e solto, e desvinculado do bom senso, e urgente em pandegas e risadas, e zombeteiro. O lado que sabe o quanto a vida é breve pra se ser sério, e pentelho, e chato, e cobrador, e arrumadinho como jogo de tabuleiro antes do começo da partida. Esse é o meu grupo, a minha turma, a minha tribo, a classe dos jogadores que gostam da partida do meio pro fim, e sabem saborear esse pedaço que muitos querem longe.
Não sou de começos, sou de urgências! Não sou de anuências, sou de desafios! Não sou de racionalidade, sou de loucuras sadias!
E sigo nessa estrada maluca, girando feito carrossel sem controle, subindo e descendo mais que roda-gigante, virando ponta cabeça como montanha russa e me assustando com as quinas do tempo igualzinho trem fantasma.
Não sei muito bem em que porto chegarei, nem quando, mas sei que ancorarei em alguma estrela com o maior sorriso de beatitude que já se conseguiu nesse mundo, porque minha carta de navegação é ousada, está desenhadinha com todas as setas, coordenadas, latitudes e longitudes, só que agora, perdón, entreguei o comando ao piloto automático, me recuso a segurar o manche.
E sigo sem responsabilidade, sem saber quantas horas restam de autonomia, sem me preocupar em ler meu mapa de navegação, principalmente o pedaço que ensina a fugir de turbulências, zonas de rodamoinhos, e buracos negros.
Vou e voo. Desço e plano. Navego, submarino, em águas profundas, se o céu não me quiser.
Se me estabacar em solo duro podem me deixar no chão, não me recolham os cacos... eu rastejo, faço um parto de novas asas, reaprendo a voar. Só não sei se me reinvento de fada ou de bruxa, mas o retorno é sempre certo. Sou muito boa em finais felizes. Sempre fui.
#ViverÉMelhorQueSonhar
[elza fraga]
..

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

NA CORDA BAMBA



Sei que o atalho pra sanidade é não pensar, mergulhar no consciencial e escutar o que ele tem pra hoje. Mas está difícil levar essa vida mais ou menos complicada, mais ou menos injusta, mais ou menos cruel, mais ou menos nada.
Como gostaria de - igual a qualquer pessoa normal - brincar de casinha, fazer minha comidinha, regar minhas plantinhas, cantar para os passarinhos, contar minhas historinhas, dormir uma noite inteira (de tudo é o que mais me faz falta!) e acordar para um novo dia, com a mesma rotina, começando com a meditação e acabando sem sonífero de preferência.
Mas isso é pra quem merece, não é para quem acumulou tanto pensamento torto que ficou com a calha da mente entupida.
Gente como eu merece mesmo isso que tem:
Querer e não poder. Tentar e não conseguir. Começar e não acabar. Escrever pra tentar consertar todos os fatos consumados. E fracassar no intento.
Reescrever a história por cima do já escrito fica meio inelegível, mas é tentativa também, quem sabe dá certo?
Dizem que vida é sina, destino, não creio nisso. Sina é ter entrado bem lá atrás na viela errada e não ter se dado conta, e depois de quase todo o caminho percorrido olhar pra estrada que nos ficou às costas e se surpreender com o quanto de caminho fora da rota já se fez.
É como contar uma história e não ter fecho pro final porque se perdeu o personagem em estranhas minudências, se divagou demais. Tal e qual faço.
Nunca tive e nunca terei o direito de ser normal, levar uma vida sem riscos ou sustos, sempre essa corda bamba estendida me chamando, vem ver a vida aqui do desequilíbrio, vem...
E eu, burra, vou!

[elza fraga]
Imagem retirada da internet.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

RECADO PARA UMA GAROTA CONTESTADORA


As vezes, quando a saudade aperta, a mente me leva até aí, onde está sua presença, e eu fico observando calada, remoendo pensamentos, admirando e querendo ajeitar detalhes, tentando lhe dizer no sopro do vento, mais um pouquinho de paciência, amada, e você chega a isso que nós, aqui do meu lado, chamamos de maturidade.
E aí eu calo a mente para que você não receba o recado pois me sei bruxa, com o dom de me fazer presente sem estar em matéria, a minha alma aprendeu a voar muito cedo.
Mas me calo mesmo é por saber que temos tanta semelhança que me chego a ver em você. E quando constato isso me dá um certo frio na barriga, você é quase eu quando tinha a sua idade.
Orgulho e medo se misturam numa alquimia doida e doída.
Eu era tal e qual, queria manter autonomia, queria ser contra a maré, queria tudo o que não podia, e levantava o nariz e dizia ao mundo: Aguarde, um dia eu me vingo, eu me desforro e eu domo você!
Mas o tempo, esse senhor sério, sisudo demais pro meu gosto, sem um pingo de senso de humor, me mostrou que não era o mundo que passava por mim, era eu quem passava pelo mundo.
Acertou meu real tamanho em detalhes milimétricos, me botou freio, me colocou nos trilhos, e tentou me fazer infeliz pra sempre.
Só que ele, o tempo, não contava com minha petulância. Eu lutei contra ele, fui meu próprio bandido, meu próprio super-herói meu próprio aprendiz, meu próprio mestre e abri meu próprio caminho.
E fui poetar pelas estradas da vida. E fui me salvar. E fui ser feliz!
E por isso acho que posso lhe dizer, sem medo de estar sendo intrometida, procure dentro de você a sua função nesse plano, a estrada que terá que seguir sozinha.
Haverá horas em que terá dezenas de pessoas em volta, mas se saberá única. Ali é você que está, é você que "é"!
Os outros são coadjuvantes, você é sua protagonista, esse papel é seu, só seu. Não deixe que ninguém escreva seu script, escreva sua própria história com seus passos, mas principalmente com seu coração
Esqueça os ensinamentos vazios, o que lhe dizem que é certo ou errado, busque no mais profundo, no consciencial, e lá estarão as respostas certas, o caminho bom e seguro, mas isso é só detalhe, o que é importante é que lá estará a sua verdade, que esta também só lhe pertence.
Vivemos uma vida inteira pegando conceitos alheios, acreditando em mestres ou gurus, fazendo o que a cartilha social acha o correto. Fuja dessa armadilha, não deixe que ninguém a preencha, estude o que não sabe na fonte certa. Sua intuição é essa fonte, beba nela e só nela se complete.
E siga seu caminho. Não precisa acreditar em mim agora, bem mais tarde saberá o que eu quis lhe contar. Bruxas tem seus segredos, você terá os seus, pois você é descendência e não me decepcionará.
E nunca esqueça que bruxa é apenas eufemismo pra fada, porque não podemos nos revelar inteiras, vai que alguém nos roube a varinha de condão?
Não vou marcar você, pois sei que entenderá que o texto é seu, não o comentará, pois não se revelará.
Como eu disse antes, somos fadas e as fadas se protegem.
[elza fraga]

sábado, 27 de agosto de 2016

COISAS QUE PASSARINHOS ME CONTAM



Existe uma espécie de construção, feita de vários materiais, nunca iguais, nunca em série, algumas grandes e fartas, algumas singelas e coloridas, chamada casa.
Nessas construções mora gente.
Em algumas moram pessoas sós, não solitárias. Saem, andam procurando natureza, tentam saber em que podem ser úteis e distribuem abraços aos necessitados de braços, palavras aos carentes delas e ouvido servil com boca silenciosa aos que precisam colocar a alma pra fora e querem apenas alguém que os escute atentos, sem julgamentos, apenas mãos e braços estendidos pro conforto.
Em outras moram pessoas sós e solitárias. Andam curvadas ao peso do desamor, e a nada se apegam, algumas vezes até pensam que são felizes. Seguem enganadas e enganando. Nada ajudam, nada contribuem, nada atrapalham, mas também nada acrescentam ou aperfeiçoam. Como nuvens passam rápidas formando desenhos, nunca sendo o desenho. Buscam incessantemente o vazio da vida, mas não carregam a vida no sorriso. Nada aceitam. Nada doam. Apenas estão ali plantadas como se árvores fossem, seus braços são apenas galhos ressequidos. Um dia talvez, quem poderá saber? - irão se tornar árvores frondosas, a vida é fluxo incessante que nos faz correr pra aprender amor antes do mergulho no todo universal, antes da travessia do Portal Mágico.
Em algumas outras moram casais, famílias, crianças, animais. E nessas há muito barulho, conversas, pitos, divergências seguidas de convergências. Sobram abraços pra todos os lados e pra todos que ali habitam, e sobram tantos abraços que eles até doam para os que lá não moram. Nessas existe uma luz constantemente acesa, mãos sempre estendidas, sorrisos fartos, café cheiroso nos bules, pão e cafuné para quem se achega. Muitas dessas não tem muito luxo ou conforto, falta, várias vezes, um ou outro item necessário, mas aí colocam o amor na frente, a prece no peito, e a fé - que já se acomodou faz tempo nas almas ali viventes, faz o que era pouco, ou nada, virar muito, virar tudo.
E é numa casa assim que eu queria morar, numa dessas que as pessoas como eu ainda pensam que se chama casa...
Me contaram em sussurro, num dia desses de sol, que o nome disso é lar!
[elza fraga]

Imagem retirada da Internet.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

DOS DISSABORES DE SE TER VIDA



Tem gente que tem grana sobrante coçando o bolso e corre para o divã do psicanalista quando as coisas não estão correndo nos trilhos, ou quando bate uma insegurança de qual caminho tomar, ou mesmo quando a alma deu uma diminuída e se escondeu no id e de lá não quer sair nem quando cutucada pelo ego.
Tem gente, e sempre me inclui nessa lista, que não precisa de psicanalista, sabe-se forte o suficiente e se autoanalisa, e se dá diagnóstico e diretrizes, se preciso até receitas.
O primeiro grupo é feliz e sabe disso, pois quando se deposita dores, anseios, baixa de imunidade do espírito, mazelas e afins, em ouvidos alheios, é como se entregássemos a carga ruim e saíssemos leves novamente.
Renascer, recomeçar tudo, fazer novas melecadas, ser tolo novamente, sorrir pra cara feia da vida, acertar os ponteiros e não brigar com o tempo, deixar escorrer a ansiedade no abismo do outro e fechar nosso próprio abismo. Isso é poder continuar e seguir amando os ferimentos e os feridores.
É direito afinal se consertar com o vazio pra poder se preencher de novo, e de novo, com erros fresquinhos, inéditos, nunca antes testados.
Mas o segundo grupo, no qual me incluo envergonhadamente, é feito de gente lerda, tonta, estranha, que “se acha” e no fundo não se encontra. E é essa gente que tem que aprender a dividir sim seus problemas, sua angústias, suas diferenças, suas desavenças, suas doenças - mesmo que sejam psicossomáticas, suas dores reais ou imaginárias, seus monstros noturnos e suas querências também, que a alma do ser humano é povoadinha de quereres do que não se pode.
E esse texto é só pra dizer:
Facebobo, me desculpe, mas elegi você meu psicanalista oficial e predileto...
Até porque ainda não me cobra as consultas, e isso faz toda a diferença, enquanto me ouvir de graça, aliviar os sintomas, e não espalhar pra ninguém o que conto em segredo público, continuarei com meu horário marcadinho. Correto?
Bem, se bom pra você, bom pra mim também, e estamos conversados, até a próxima consulta nesse mesmo horário.
Não se atrase, por delicadeza.
[elza fraga]
ainda sem sair pra ver o sol e clicar suas flores, mas quase em recuperação completa.

domingo, 31 de julho de 2016

RETRATO FALADO DE UM LEONINO



Leonino... Raça de gente diferenciada, detesta o mimimi da cambada que está no mundo só pra se rebelar e reclamar da vida.
Não interessa ao leonino se o dia está cinza ou azul, se vem vento do sul, se o sol está com crise de timidez, o que importa é que ele está no mundo e é sua vez de mostrar do que é capaz, e como mostra, rapaz! E como mostra!
Quando picado pela picardia amiga, se fecha em copas ou vira ostra, repousa na concha.
Mas quando incentivado por sorrisos alheios, ou por abraços, se desmancha e desata os laços do coração, e se doa, e se derrete, e se mete onde nem foi chamado.
Tímido, educado, cortês até demais, o leonino sabe, como ninguém, a que veio, e que essa vida pede delicadeza, mas muita firmeza pra aguentar os trancos e as despencadas nos barrancos.
Sabe também manter os chatos afastados, e se cercar do brilho dos privilegiados que entendem a sua mania de querer ser feliz a qualquer preço, não barganha, não pede desconto, não vive de pedinte enchendo o saco, e o juízo, da Dona Vida, pois sabe muito bem que não adiantaria e só desgastaria o seu humor, que isso, o humor - ele tem pra dar e pra vender.
E se há feridas, deixe que ele mesmo as lamba, ou as prense com o curativo do amor próprio... Não choraminga, não pede arrego, não se assusta com o andar da carruagem.
Apenas segue, autenticamente, genuinamente, transparente, balançando a juba e tratando a vida de igual para igual, pois entende, perfeitamente, que a vida só respeita a quem se dá ao respeito, e por saber se vira do seu jeito, sem peditórios.
E se tens um amigo leonino, aproveita e se ajeita bem por perto, ele é arisco, mas também esperto a ponto de saber reconhecer e valorizar os verdadeiros.
Como sei disso tudo? Sou leonina, satisfeita demais com a condição de ter nascido num agosto, não trocaria minha juba, meu desconforto, minha inquietude, minha ânsia de descobrir o horizonte, minha certeza de que tudo o que me fere me cresce, minha expectativa de que amanhã será um dia lindo; por nada que me doasse passividade, abrigo seguro, conforto e racionalidade, ou me fizesse mais carente, mais mendiga de afeto, menos forte, menos capaz.
E ser impulsiva também faz parte do pacote, ô, se faz!
[elza fraga]

sábado, 23 de julho de 2016

VIVER É LEVE, PESADA SOU EU.


Quando o fio / quase arrebenta / eu sorrio / para dentro / e me repreendo/ calma / que esse tranco / a alma aguenta.  ([elza fraga)
Viver é um ato que independe da gente, nascemos e estamos aqui, sem retrocessos para consertar buracos deixados pelo vento.
Quanto ao caminho, ah... esse é de nossa escolha, o fazemos com os passos, firmes ou nem tanto, mas a construção é nossa.
Se posso caminhar, vagarosamente, olhando a beirada da estrada, as flores no jardim, pulando as pedras que me interceptam a caminhada, por que pesarei o passo?
Alguns confundem leveza com tolice, falta de compromisso com a vida, emburrecimento - me acham oca? Talvez.
Não sou!
Viver independe da gente - certo - mas a construção do ser que somos é tarefa nossa, e apenas nossa.
Não é viver como fio solto, rindo até de batida de avião. É viver com a alma leve, sorrindo das peripécias do caminho. Tudo tem seu lado bom, tudo tem seu lado de aprendizado, tudo tem seu lado engraçado.
E vou leve, por mais que me achem sem conteúdo eu sei que o tenho. Aprendendo com a vida e com as pessoas, com a caminhada e com a espiritualidade, com o amor e com o desprezo.
Aprender é só acumulo de informação, é se preencher de conhecimento. Agora, viver é se preencher de sol, de céu, de sorrisos internos, de energia vinda da fonte, de natureza!
Por que iria colocar vinte pedras em uma mochila e sair por aí, carregando o peso extra, se posso deixar até a mochila em casa?
Viver não é uma prisão fechada dentro de conceitos, viver é a liberdade de respirar o ar que quero, onde bem entender, e, mesmo se a dor doer mais do que deve, saber que posso controlá-la, dominá-la, entendê-la e aceitá-la, como ela é, provisória como a vida.
Tudo passa, nós passaremos também, então que seja ouvindo a sinfonia dos pássaros e não o canto rude dos trovões.
[elza fraga]

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A DECLARAÇÃO QUE NÃO VEIO



Precisei viver uma vida inteira, e mais um pouco, para me dar conta de que nunca tive, ao pé do ouvido, uma declaração de amor.
Nem de amor possível, nem de amor impossível, nem de amor que se desespera em atos ridículos, nem de amor incondicional, nem de amor de qualquer espécie humana.
E ao descobrir isso me deu um vazio meio esquisito não no coração, mas na boca do estômago.
Estranho!
Qual será, ou seria, o órgão responsável para digerir o amor?
Ou para dirigir o amor ao setor competente?
Ensaiei uns segundos de tristeza, não acertei bem personagem triste, sempre me soube alma alegre, apesar de ter constantemente um temporal ou uma enxurrada na porta da casa do meu espírito, que nem se molha, deixa o problema pra matéria resolver e se secar sozinha ao sol, se quiser, e quando o bendito voltar a brilhar após a tempestade.
Dois motivos já acumulados pra melancolia:
1- A falta da tal da declaração de amor pra eternidade. Meio utópica essa querência, mas que faltou, faltou!
2- E lembrar que chove muito mais na minha horta que na horta alheia, e vivo com meus pés plantados num chão incerto, meio instável. Então com certeza não poderei colher verduras de esperanças, só o amarelado da mostarda que amarga a vida do
desassistido pela sorte.
Descartei os dois, resolvi que continuo feliz, apesar de esbagaçada feito mexerica caída de madura. Um dia todos os gomos se recompõe, se ajeitam, se acertam, se refazem. Viro fruta inteira novamente.
Quanto a me preocupar com a declaração de amor que não veio e com a falta de sorte, já passou, nem doeu, soprei, dei um beijinho na própria alma e me toquei do fato de que vivo uma vida de fazer inveja a qualquer Alice, meu país interior é o das Maravilhas, não é pra qualquer humano habitar.
Foram tantas as demonstrações de amor, amizade e lealdade vinda de raças diferentes, não raças de outros planetas, mas daqui mesmo, do planetinha azul.
Cães, gatos, borboletas e passarinhos sempre me tiveram em seus círculos de amores.
E crianças, pois acho que só depois que se cresce é que se vira humano e que se contamina a essência.
[elza fraga]

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

PENSAR QUASE NÃO DÓI (MAS AMAR NÃO DÓI NUNCA)



Não tenha constrangimento em pensar diferente do amigo.
Não tenha pudor em dar sua opinião em seu espaço. 
Só não a dê (viva voz!) quando não pedida, e em espaço alheio. 

Aí fica feio e sobra, e o que sobra é resto, não nos serve mais.
Só fuja da sensação ilusória de poder, se conseguir, isso não pertence ao homem.
Mas se arriscou abrir uma conta em rede social e tem uma página que, em tese, lhe pertence, ouse!
Ouse pensar. Ouse amar. Ouse escrever.
Ouse espalhar sua opinião. Ouse aceitar os comentários que poderão vir contra ou a favor.
Ouse apagar os mais ou menos desaforados. Ouse responder, se gosta de polêmica... Mas ouse!
Ouse por amor a sua lucidez, ao seu espírito imortal que aplaude atitude proativa e rejeita a omissão e a covardia.
Ouse pelo seu bem estar. Ouse pra despertar sua consciência profunda. Ouse pelo seu sono tranquilo, pelo seu equilíbrio perante a vida, pelo seu compromisso com a verdade, a ''sua verdade''. Ouse pelo seu mundo.
Que nada, nem ninguém, lhe tire a capacidade de ter suas próprias, e particulares, ideias. Chegue, você mesmo, as suas conclusões. Mude sua concepção do fato se preciso for, quantas vezes se fizer necessário - se algo lhe parecer mal encaixado em seu raciocínio.
Não corra atrás da lógica comum, corra atrás da sua lógica.
E tente não pensar em um mundo que não queira pra si. Programe seu mundo, o preencha com suas flores, crie seu jardim, coloque seu sol brilhando dourado, desenhe sua noite com lua cheia, nova, crescente, minguante, mas ali, brilhando no seu céu. Faça seu verão e seu inverno, rabisque seu outono. Mas sem esquecer que sempre chega a primavera.
O mundo é como o pintamos dentro de nós.
Nossas projeções é que fazem acontecer, o bem, o mal, o bonito, o feio, o certo e o errado.
Então que pratiquemos o bom pensar para atrair as coisas boas, bonitas, corretas, coloridas de luz, que nos esperam.
Eu penso diferente dos amigos na maior parte das vezes, mas não é isso que faz minha diversidade, isso só me faz única, não tenho e nem quero cópia.
Quero ousar. Quero que os amigos ousem. Quero pensar e projetar meu mundo e que os amigos também projetem, cada um a sua maneira, seu próprio mundo.
Não possua, e nem entregue, um controle remoto nas mãos de qualquer um que se diga mais capaz que você.
Não busque orientadores, líderes, gurus.
Não seja seguidor de nenhum ser desse plano, seja seguidor da suaconsciência e do seu coração.
E, se acredita como eu acredito, entregue o cordão que liga sua alma ao universo, na Mão do Criador.
E pronto, sua receita para ser feliz está quase completa, só falta o seu ingrediente especial.
Busque-o, descubra-o... Acrescente e mexa com delicadeza.
E seja feliz!
[elza fraga]

domingo, 17 de janeiro de 2016

DESABRIGO

 
 
Vontade de sumir ou me encostar num canto qualquer e deixar a vida passar por mim, sem susto, sem ventania, sem tempestade...Ao abrigo da sombra de alguma árvore frondosa, abraçada a galhos que me escondam do mundo.Só que não existe mais lugar seguro sob o céu desse planeta, destruíram as trincheiras e nos deixaram expostos a (má) sorte. Nos desarmaram, nos des-amaram, nos apequenaram, nos nivelaram abaixo do zero por cento. Demos traço, não mais somos notícia, somos os exilados da terra, mesmo que continuemos vagando sobre ela não marcamos ponto ou presença.
Somos a soma de vários nada, ninguém escuta, entende ou respeita nossas vozes berradas, nossos gritos de angústia. A estrada continua, mas nós abdicamos dela, nos arrastamos apenas por hábito, ou por costume, ou por empurrões vindo da turba que segue nossos passos, tão ensandecida e "alheada" como seguimos nós.
E a cada curva, a cada esquina, a cada encruzilhada, acordamos uns poucos momentos pra tentar acertar a rota, mas é tão difícil, é tão cansativo, é tão escuro o caminho avistado que só nos resta procurar a sombra inexistente da árvore que tira a vida e dá o descanso.
Que outros façam por nós o acerto, o retorno as origens, a volta pra casa... Durmamos!
 
[elza fraga]
 
 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A GUERRA DOS RATOS



(HISTÓRIAS PARA DESPERTAR PESADELOS)
Era uma vez, numa terra não muito longe daqui, uma população dividida,
mas aparentemente amigável. 
Numa ponta havia minoria, numérica, de ratos. Tão falastrões, mas tão bonitinhos na sua inofensividade.
Na outra, maioria em escala, de leões bravos e orgulhosos de suas jubas. Sabiam berrar tão forte que assustava, pensavam eles.
Um dia deixaram que um membro da população ratiniana exercesse a administração do lugar,
se tornasse o rei por um período, para sondar como ele se sairia.
E ele se deu tão bem, mas tão bem, que abarcou todas as terras do reino, passou tudo pro nome dos da sua raça, criou a Sociedade Ratiniana, com simbolo e Bandeira próprias, tomou o palácio real de assalto, criou um muro que os separava da população leonina. Mas fez isso tão sorrateiramente, tão docemente, tão cuidadosamente, com uma lentidão que ratos não possuem, que os leões só se deram conta quando o muro já estava em fase de pintura.
E foi assim, conta a lenda, que pela primeira vez na história de todos os reinos, conhecidos e desconhecidos, os ratos venceram leões.
E quem quiser, ou souber, que conte outra!

[elza fraga]

domingo, 30 de agosto de 2015

EM BUSCA DE MIM




Ingenuamente lhe dei quase todos os meus sentimentos, os mais nobres...
Os de pouca valia escondi debaixo dos pés de frutas do pomar que a minha alma gosta de cultivar.
Dei-lhe os gnomos do jardim, os sapos e os príncipes das minhas histórias malucas, sempre do avesso e na contramão da vida.
Deixei que pegasse minhas fadas e suas varinhas mágicas, minhas poções e feitiçarias, minhas manias de mexer os caldeirões.
Fiquei com minha vontade de com apenas um 'plim' fazer florir, outra vez, e mais outra, todos os recantos que me sonegou, que isso o tempo se encarregou de não me deixar abrir mão ou esquecer.
E agora que fiquei vazia sobrou só a pergunta
Onde encontro você para me devolver a mim?

[elza fraga]

sábado, 8 de agosto de 2015

OS SETE MALES DA TERRA





(Da série histórias para endoidecer o mundo)
Era uma vez...
Um lugar cheio de luz e vida onde todos eram bichos, até o homem era considerado assim.
Havia paz, pleno entendimento, amor entre as criaturas de todos os feitios, cores e dons
Os outros animais, assim como o animal homem, falavam o mesmo idioma, a linguagem universal do amor.
Não existiam doenças, se morria de idade, conforme os planos do Criador, e a velhice não causava medo, pois não tirava o poder e a força da atividade. 
A morte era consequência da vida e era sempre bem-vinda, sem dores, sem traumas ou pavor. 
Ninguém governava ninguém. Cada um cuidava do seu pedaço e da sua função, e todos tinham os mesmos direitos e deveres. 
Nada era comprado, tudo era negociado. Quem plantava o milho e fazia o pão o fornecia aos que plantavam verduras, e recebiam produtos da horta como pagamento. 
As roupas eram tecidas por quem plantava o linho, que as trocava por pão, verduras e o que mais precisasse.
Parecia perfeito, mas... toda a história tem um mas...
Um dia as cobras se retiraram para os campos, fora do alcance da visão dos que por lá moravam, fizeram uma reunião e a chamaram de Congresso, primeiro mal da história desse mundo.
Fazia muito tempo que elas andavam estranhas, até seu rastejar andava mais ligeiro que de costume, então era normal que todos ficassem curiosos. 
E aí foi inventado o segundo mal da terra, a curiosidade que teve como filhas a maledicência e a mentira.
Quando as cobras voltaram do tal Congresso foram a todos os cantos conclamando uma reunião urgente. Como a curiosidade já havia se instalado no meio de todos foi fácil marcar o encontro.
No dia e hora acertado, bem cedinho, lá estavam todos, calados e atentos.
A cobra mais velha, se sentindo a mais sábia, tomou a palavra e num comunicado, cheio de malícia e persuasão, convenceu a todos que precisavam de um sistema que coordenasse, daí pra frente, aquela comunidade. As coisas estavam correndo muito lentas, disse ela, estavam visando o progresso e gostariam de formar uma comissão onde cada segmento teria um cargo. E fez-se o terceiro invento, a votação.
A cobra ficou como administradora de toda a produção. Afinal a ideia fora dela, merecia o cargo mais alto. A raposa como guardiã dos armazéns que seriam construídos para estocar o que fosse fabricado. O cachorro pegou o cargo de tesoureiro. 
A cada bicho foi sendo delegado um posto conforme suas aptidões.
O homem, bem, a este sobrou a função de inventar um papel que serviria de garantia para se adquirir os bens necessários à sobrevivência. 
E aí foi inventado o quarto mal, o dinheiro, pai da cobiça e da avareza.
Só que a cobra não contou toda a pauta do congresso feito só pela sua classe, nem contou que, ao se afastar com seus iguais e decidir por todos trazendo já a pauta encerrada, havia inventado o quinto mal, as classes conforme suas características. Com isso grupos diversos foram se aglutinando em castas.
Também não contou seu plano secreto, que logo foi posto em ação: 
Por qualquer motivo substituía um dos eleitos a posto de comando por alguma cobrinha, alegando curriculum melhor.
E assim foi sendo feito, à sorrelfa, vagarosamente, até que só havia cobras nos cargos que decidiam o destino desse mundinho antigo, lá do princípio do mundo, onde a memória nem mais alcança.
Com tudo dominado chegou a parte mais dura da vida para os que lá viviam. 
Não havia mais consenso e o bom senso mandava que todos obedecessem calados. 
O cão aprendeu uma linguagem nova para tentar se defender e começou a latir, não ensinou ao homem, nem a mais nenhum bicho, seu novo idioma, para que nunca soubessem o que diziam.
Todos os outros bichos seguiram seu exemplo.
As cobras começaram a sibilar pelos cantos, mas ninguém mais queria saber o que diziam nos seus sibilados. Tinham medo da resposta.
E viram o quanto foram tolos. Cansados, deixaram de produzir para os armazéns e inventaram o sexto mal, a preguiça, que pariu o ócio e a miséria.
Tarde para retroceder, tarde para combater as cobras que se multiplicaram como loucas que eram, tarde para tentar salvar um pouco do passado de paz, abundâcia e bonança.
Começaram a notar sinais de fraqueza, doenças surgiram ninguém sabia de onde, e levava, sem escolher, todo o tipo de povo para as terras do lado de lá do véu. 
A morte já não era natural e doce, era castigo e doía no corpo e na alma.
E se deram conta do sétimo mal inventado, a inveja, pois quem sobrevivia mais um pouco acabava invejando os que já tinham saído dessa roda doida chamada vida. 
E a inveja, o mal mais perigoso de todos, teve como filhos o ódio, o deboche e a ganância.
Virou uma terra de inimizades onde nunca mais os seres falaram a mesma língua. Hoje, nessa terra, mesmo os que comungam do mesmo idioma se desentendem ou entendem errado até as palavras mais doces de amor e paz, pensam que existe por trás significados ocultos, porque se lembram, ainda que vagamente, das cobras e suas histórias de mudar o mundo trazendo o progresso.

[elza fraga]

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

DIA DE CÃO EM NOITE DE ESTRÉIA




Ufa! Finalmente se fora, carma acabado pensou, porque até os tolos e maus pensam.
Fez o papel que lhe cabia - viúva chorosa partida de dor - artista das boas que sempre foi.
Deu a volta, vagarosamente, pelos fundos da casa, pisando como gato manso que não quer ser notado até tudo estar do modo desejado.
Entrou sorrateiramente no primeiro salão de beleza que avistou,  trançou os cabelos, fez maquiagem, não podia fazer feio para a festa da despedida.
Com a cara de sofrimento intenso novamente atarraxada, refez o caminho de volta à cena mais importante do seu torpe teatro.
Também que péssima ideia desse seu povo, mania de morrer pela manhã quando todas as caras ainda estão amarrotadas!
Agora era só desconstruir os outros seres presentes, mesmo que pra isso a mentira e a calúnia tivessem que entrar no roteiro, 
afinal todos coadjuvantes e elenco de apoio, sem fala. Que os tolos acreditassem, e acreditaram! -  e pagassem o ingresso.
Era ela a protagonista, boa ou vilã não importava, só importava ter o papel principal e sair bem na selfie.

O papel de bruxa lhe caiu como uma luva.  
Ainda vai viver um bom tempo desses dividendos, até a máscara cair, 
todas as máscaras um dia caem.
Só que a peça acabou e o pano fechou
Sem aplausos.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

MANUAL PRÁTICO DE UM ELEITOR



1) PENSE

Use a cabeça para o fim que se destina. Nada de comprar chapéu de sol, experimentar penteados, usar o corte da moda nos cabelos sedosos.

1-A) Pense em cada provável candidato, abra informações sobre ele onde der e tiver, estude a vida pregressa, saiba tanto dele quanto sabe da vida do vizinho antipático que se engalfinha com a mulher em memoráveis escândalos. Cuidado especial com os que muito prometem, com os que não tem ganha pão oficial e vivem pendurados em cargos políticos desde a idade média, e com os que tem olho de sanpaku [é com n mesmo antes do p, não me perguntem porque, porque quando não sei, confesso e passo vergonha!]

1-B) Compare candidatos como compara preços nos supermercados da vida. Não compre gato por lebre. As vezes o queijo mofado é de melhor gosto que o branquelo de Minas. Desce melhor pela goela abaixo e não dá piriri nos dias subsequentes.

1-C) Não acredite em tudo o que ouve, mas desconfie, o povo aumenta, mas não inventa todo o enredo. Fazer novela é criatividade de canais de televisão que calam a boca quando o assunto é espinhento e nos deixam à deriva, sem informações séria, brincam de cachorro morto. O povo não, que esse não é bobo, só finge que é pra viver sem levar cascudo.  A voz do povo é a voz de quem escutou o galo cantar, só não sabe onde.

1-D) E ainda no item pensamento, tire umas horinhas por dia pra se questionar porque cargas d'água tantos querem tanto um carguinho cheio de pepinos pra descascar.  Uma função onde o que mais se escuta é oposição metendo a lenha no couro do proponente. Estranho isso,  então pense, pense e pense mais um 'cadinho até achar a resposta certa. Questão difícil, e a prova nem é múltipla escolha, é discursiva, meu filho!

2) OLHE

2-A) Olhe com cuidado o resultado da última gestão de cada um em cada área, caso eles já tenham dado contribuição ao solo pátrio.

2-B) Ponha os óculos e examine situações, não se avexe que isso é normal, ninguém, ainda, vai lhe perguntar porque está com o nariz, e os olhos, metido onde não foi chamado. Vão até lhe mostrar algumas coisinhas agradáveis de se ver, e aí desconfie e xerete mais, aposto que você acha o túnel, se com luz no fim não sei, mas está lá, é só ter competência xeretatória e ir em frente.

2-C) Olhe qual foi o mais mão aberta em causa própria. O que foi o mais maquiador de estradas que se desmancham como papel no primeiro chuvisco de verão. O que socorreu a população quando o morro desceu com barraco e tudo e construiu, de verdade, casas populares que não trincam antes de acabadas. O que foi o mais 'tô nem aí'  e vou mais é administrar lá da minha mansão na praia, ou em resorts na Bahia, que lá também é bom. O que gosta de viver com a cabeça nas nuvens, e tem avião particular com direito a carona pra turma que lhe acompanha nas andanças governatórias. Helicóptero também não é muito bom, faz o sujeito ficar sonhando com o dia que tiver o avião do outro, gera atritos demais, muita maledicência, um fica jogando a culpa de tudo no adversário e arrisca você ficar doido no meio do tiroteio verbal. 

2-D) Mas já que você, caro eleitor, vai ter que escolher, então olhe com olhos de ver. Nada de leitura dinâmica, tome tenência e deixe a preguiça de lado, faça uma leitura apurada e real dos fatos.

Como esse manual tem pra lá de 500 páginas, sem ilustração, deixo os dois primeiros tópicos por achar que já dá pra quebrar o galho e alertar :
Vai votar?
Então se liga, rapaziada, pois votar não é pra principiantes. E não estou falando de idade, estou falando de qualidade e discernimento.
Talvez eu disponibilize o manual inteiro um dia, se meu tempo nesse plano permitir e os ares estiverem frescos, pois com esse calor todo os ânimos ficam acirrados   e posso levar uma leitura dinâmica pelas fuças.
Boa sorte na peneirada. Ouro, ouro mesmo, não acharão, mas quem sabe um olho de falcão, pedra conhecida como mensageira dos deuses, não cai dum céu de brigadeiro só pra nos engordar mais um pouquinho?
O negócio é perseverar. Desistir é pros fracos, somos gigantes, adormecidos como canta nosso Hino. Corramos atrás que o despertar pode estar nos esperando na esquina.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

QUERIA UM FINAL FELIZ, E COMO!


Tudo vai de mal a pior.
Querem cobrar o que acham justo por um transporte público de péssima qualidade.
O justo seria se fosse gratuito, e ainda seria caro demais pro sofrimento de um povo que se aperta dentro de fornos chamados ônibus, ou trem, sem lugar pra descansar os dois pés no chão, pois sentado só para os fortes, que invadem no desespero, esquecem a fila, os idosos, as gestantes, não por maldade ou covardia, eles também estão cansados do descaso.
Sou a favor de passagens dentro da realidade. Transporte de primeira linha, preço de primeira linha. Transporte sucateado, preços sucateados, ora bolas!
Impossível que não se visse esse quadro sendo desenhado lá atrás, quando pararam de fazer manutenção e investimentos nas ferrovias. Meio menos poluente e mais racional, solução dos problemas de locomoção caso tivessem tido o tino de não deixar que a deterioração tomasse conta geral.
Consertar erros de várias gestões custa muito caro, manter as coisas nos eixos fiscalizando e resolvendo os problemas rapidamente, quando eles aparecem, é o mais certo, mas aí sai dinheirinho dos cofres que querem lucro enorme a todo o custo. Mesmo que esse custo seja o nosso desconforto, o nosso estresse, a nossa vida. Afinal somos 'o povo' e pra que serve mesmo o povo?
Respondo eu.
Para votar, só pra isso. 
Pra dar emprego a essa gente que ri do nosso desespero, que nos responde e trata com grosseria, que perde a delicadeza frente ao seu empregador e patrão [o povo, eu e vocês],
mas é de uma fala mansa diferente quando se trata de dar a cara publicamente em rede de TV. Nem parecem os mesmos que nos espremem até a última gota.
Salários pagos com nosso dinheiro, melhorias que deveriam estar em andamento também com nosso dinheiro. 
O primeiro eles não esquecem, mas o segundo item virou supérfluo, afinal somos apenas 'o povo',  votamos de quatro em quatro anos, somos memórias curtas no entender de quem pede voto. E é nisso que eles se fiam, se agarram e tecem suas manobras.
Não são de todos maus, como diria um técnico e pitaqueiro da área, portugues, tão sofrido como nós, os brasileiros, são apenas crianças brincando de poder. Deixe-os brincar em paz que um dia, talvez, cresçam e cansem.
Vou além, são pessoas que [a maioria]  tiveram o que bem entenderam na infância, vontades feitas, desejos realizados antes até de serem expostos. Continuaram birrentos pela vida a fora.
Exemplo: 
_Não aumenta a passagem, os serviços são péssimos, a população não aguenta mais tanta covardia no lombo, está cansada dessa brincadeira onde ela sempre perde o jogo. 
_ Não calo a boca, e aumento mesmo, quem manda aqui sou eu!
Foi mais ou menos por aí, suponho eu que não sou especialista em área nenhuma.

E se estou escrevendo isso é por pura pena de mim, de todos que amo, de todos que me amam e de quem não me ama também. Pena do povo, principalmente das crianças que estão assistindo isso no risco de até achar normal ser vilipendiado, maltratado. Serão adultos com autoestima no pé, aprenderão o 'sim senhor, sim senhora' e o triste abaixar de cabeça.
Enquanto isso, do outro lado, a minoria satisfeita, que concentra no bolso o honroso título de classe A,  finge com sorrisos que tudo vai bem e que nós daqui estamos caminhando para lá, talvez até acredite e nos faça acreditar também, pois mentira muito contada vira verdade em cabeças como as nossas, que nem querem mais pensar para não explodir.
Serão os que nos comboiarão amanhã?
Talvez não esteja aqui pra ver a derrocada, o final dessa história, não sou tão nova em cronologia, sou nova de mente, essa arejada e levada todo dia pra tomar a fresca. Só espero que seja um final feliz, tão feliz quanto o das histórias que contava para as crianças desfavorecidas de pais com carteiras abonadas.
E ainda espero mais uma coisinha, que apareça mais e mais contadores para essas crianças, assim talvez as salve desse quadro caótico, as resgate da mesmice e do sofrimento carimbado. engolido, e levado na bagagem como parte que lhes cabe, quando na verdade todas só merecem respeito, direitos, pais saudáveis de cabeça e corpo, saúde, educação, transporte digno a preço justo e amor, muito amor.
Isso não é um texto político, é um texto de quem já viu muita coisa, boa e ruim, e agora anda vendo o lado mais triste ganhando feio essa batalha.

domingo, 22 de dezembro de 2013

SOU [OU NÃO SOU] PROFESSORA



Este mundo é engraçado, passei grande parte da vida corrigindo uma lenda, que quase vira realidade [ou virou!] em cabeças amigas : Eu não sou professora, de nada!
Nem no ensino tradicional, nem no paralelo, rs.
Sou contadora de histórias e, por acaso, escrevo algumas das histórias que conto.
Talvez pelo fato de ter dividido espaços de contação com número significativo de professores, ter o meu círculo de amizades formado por uma enorme quantidade deles, respeitar esta profissão como a "Cellular Mater" de todas as outras e os saber contadores também por prática da profissão; a confusão foi instalada e por mais que eu desminta, mais cresce o "boato" - do bem, mas boato.
Hoje, saindo do centro comercial, me deparo com um rapaz, que frequenta praticamente os mesmos ambientes que eu, faz trabalhos na área de contação e estamos sempre nos esbarrando por aí. E ele me vem com um sorriso de quem sabe exatamente o que faço, me dá um enorme abraço, e manda a célebre:
Como vai o coração, professora?
Não desmenti, até porque pela cara dele me pareceu que já foi meu aluno, não nesta, mas quem sabe numa outra vida?
A conversa girou em torno de seu último grande feito, acabou de se formar em medicina, me deu crédito por ter conseguido e ainda se colocou a minha disposição para o que precisar.
Ao nos despedirmos senti uma vontade enorme de consertar, mais uma vez, o equívoco, mas desisti ao olhar seu olhinho brilhando, me achando um pouco responsável pelo seu sucesso. Não quis decepcioná-lo!
Seria um crime arrancar um sorriso tão farto do rosto de alguém.
E talvez perdesse toda a energia do abraço recebido.
Deixei passar, que mal poderia ter o "fato" de continuar morando como "sua professora" nas memórias que ele guardou com carinho?
Prometo a todos, na próxima venho professor(a).
Ainda não sei de que, não decidi em que matéria vou me especializar quando crescer [na vida vindoura].
Ah, mas que venho preparadinha pra dar aula, isso venho,
me aguardem, 'meus' alunos queridos.

[elza fraga]

AINDA ESTAMOS À DERIVA


[ou pode ser...]

Saindo agora de qualquer debate político por ter opiniões.
Ninguém entende ninguém, e todos querem ter razão.
São muitas bandeiras para pouco diálogo e vontade política.
Na hora em que tudo parece fugir de controle se espera mesmo que as promessas viáveis, ou não tanto, pipoquem. É da lei!
E se me retiro é:
Por "pensar" que sei separar o que é viável da fantasia.
Por "pensar" que sei o que é promessa vazia, com o intuito apenas de ganhar tempo.

Pode ser que esteja errada...
Pode ser que esteja certa e isso não vá dar em nada...

Pode ser que a educação pública no país continue sendo o que se vê, e, os que podem, continuem no sistema privado.
Pode ser que os que não podem se sacrifiquem, mais ainda, e mudem, de mala e cuia, pro ensino pago.

Pode ser que a saúde pública continue "internando" pacientes em cadeiras, nos corredores cheios, enquanto quem pode tem saúde privada.
Pode ser que os usuários do sistema público sangrem, mais ainda, mesa, vestuário e essenciais, e paguem planos de saúde duvidosos.
Tudo pode nesse cenário conturbado.

Só o tempo vai mostrar qual o rumo,
e vai separar o que foi prometido para acalmar os ânimos,
do que foi prometido porque se sabe justo,
se é que existe consciência de justiça entre os que seguram o leme.

Foi um prazer bater boca, ops, bater teclas.
Cansei, faz tempo, de dar murro em ponta de faca e não quero empurrar a minha opinião goela abaixo de ninguém, mas também não quero engolir a
pílula amarga dos descrentes de tudo, nem a homeopatia docinha dos incuráveis otimistas.
Estou tentando ficar centrada, observadoramente, e só!

SAMBA DA CRIOULA DOIDA

( apartidária, apolítica, porém "não cega" ) 

Quero deixar bem claro minha posição, antes de ser taxada, rotulada e empacotada pra viagem por "amigos" nem tão tão "amigos", enfim...
Não sou "socialista". Não sou "comunista". Não sou filiada a nenhum partido e não faço "política"!
Não me coloquem rótulos porque isso me deixa no revolt!
Sou apenas uma cidadã brasileira, com origens mineiras, nascida, por acidente de percurso, no Estado do Rio de Janeiro, criada na cidade do Rio de Janeiro, mas nunca deixando de ser "mineira" com muito orgulho, carioca com muito amor, mas, acima de tudo, BRASILEIRA.
E, como cidadã "brasileira" pertenço ao país inteiro e sei que o Nordeste e o Norte fazem parte do mapa do Brasil, como o sul e o centro-oeste...
Muita gente boa não sabe disso e se sente superior por morar no centro do mapa.
Não se é melhor em nada por morar aqui ou acolá, somos todos iguais em brasilidade e amor a Pátria [a minha com P maiúsculo, por favor!].
Posto isso, vamos em frente...
Pela minha "qualidade" de brasileira tudo o que quero é o bem do meu país, é ver leis respeitadas, é ver a Constituição não ser manchada, a cada emenda, pra ficar mais "governável".
Quero ver um país decente, direito, onde os homens públicos se envergonhem, e se redimam se, porventura, falharem no quesito ética. Afinal ser humano falha, mas pode, e deve, fazer um exame de consciência, um mea culpa, e retomar a direção certa.
Injusto é ver, no estado do RJ, o transporte, já tão sucateado, sumindo das ruas, visível diminuição do n° de ônibus circulando, táxis raros, metrô dando piti, trens em péssimas condições e com horários de saída esticado ao infinito. Enquanto autoridades, com seus parentes, amigos e cães, voam por cima de nossas cabeças.
Injusto é ver um Hospital Público, do porte do Pedro II, recém reinaugurado com pompa e circunstância, deixar uma idosa, na calada da noite, cair de maca sem proteção, e não ter a família informada imediatamente. Só foi descoberta a queda por um familiar que estranhou curativo na testa e o retirou, descobrindo os sombrios pontos cirúrgicos.
E esse é só um exemplo pra não ficar repetitiva.
Injusto é ver crianças que amo, necessitadas de ensino público, "passar" de ano, sem ter assimilado o conteúdo da série anterior, por falta de professores, por falta de estrutura nas escolas, por falta de salários decentes para os mestres - classe imprescindível, ninguém pode abrir mão desse profissional, de servente a presidente todos tiveram os seus!
Injusto é ver aposentados com salário que não chega ao fim do mês, sem poder comprar seus próprios remédios, vivendo de esmolas de filhos, amigos, vizinhos, porque assistência social inexiste. E se inexiste "se deve", "se pode" e "se faz urgente" a melhora dos proventos de quem já deu suor e juventude, aturando, muitas vezes, humilhações e condições precárias de trabalho.
Injusto é ver a segurança do estado, que deveria, em tese, defender o cidadão de bem, atirando bombas de efeito a-moral, balas de borracha, algumas de verdade - dependendo da ocasião e do "grau de periculosidade" de gente já pra lá de estressada - enfiando o cassetete em peitos, costas e cabeças de quem paga seu salário : O povo!
Injusto é ver nossos impostos servindo pra forrar bolso e carteira, numa divisão indecente do festim, de políticos sem a mínima noção de quem o empregou com o voto. Que os mais espertos se fartem, pois os que estão chegando agora aprendem rapidinho.
Injusto é ver os políticos votando aumento dos seus proventos em percentuais absurdamente pra cima e pro alto, enquanto votam os do povo pra baixo, rolando ribanceira. Ver o valor do salário mínimo [em 2013 : R$ 678,00 / Decreto 7.872/2012] não dar nem para pagar aluguel de casa com rede de esgoto, muito menos o essencial como comida, remédio, roupa. E riem nas nossas caras, e fazem discurso em rede oficial nos contando histórias da carochinha.
Injusto é ver isso tudo e não poder ir as ruas dizer :
"Olha eu entendi o que vocês estão fazendo com o país, com o povo. Entendi o tamanhão do rombo. Entendi a política de sucatear hospitais, importar médicos, empurrar a saúde com a barriga para que eu, pobre, morra mais rápido. Entendi que me preferem sem escolaridade e calado.
Entendi que o meu salário é o que menos lhes importa. Entendi que pra fazer estradas vocês tem que derrubar minha casa, que está atravancando o caminho, e só podem pagar um valor muito abaixo do que ela vale e entendi que ou aceito ou a vejo derrubada com meus pertences e documentos ainda morando nela. Entendi que o progresso não precisa de mim, sou descartável.
Entendi direitinho e estou aqui, nas ruas pedindo para que os senhores tenham ética, transparência e - quem sabe? - um pouco de piedade!"
Agora, depois de desenhar esse texto, os senhores entenderam alguma coisa ou me acharam doida de pedra?
Quanto aos amigos, que sei que sabem quem são, lá do primeiro parágrafo -lembram? - que me rotularam com nomes esdrúxulos [que nem sei o que querem dizer na verdade, por ser cidadã apartidária, apolítica, porém "não cega"] peço a delicadeza, me retirem os rótulos antes que eu, num ataque de fúria digno de grandes produções cinematográficas, mande todos para um lugar onde damas não entram.


[elza fraga]
Pedindo ética, moralidade (sinônimos?) e respeito ao povo nesse Natal. Que o aniversariante olhe por nós.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

VERDADES...



Por mais que se ame uma pessoa, de coração, alma e verdade, se importe com ela e tente lhe mostrar caminhos menos duros. 
Por mais que se tenha certeza que a experiência adquirida está dando a visão do todo e, que de fora da situação, existe mais amplitude, ângulo mais aberto, pra enxergar o sofrimento que está por vir. 
Por mais que se saiba que sofreremos junto, vendo afetos queridos pagando por suas escolhas.

Aprendi, tarde demais, que o melhor é o silêncio. É a omissão. É o não tentar alertar ou interferir. 
Não se pode retirar o que está na trilha alheia por destino, escolha, ou carma.
É deixar que a vida siga o curso natural, mesmo que isso nos entorte a alma. 
Cada um tem o direito as suas semeaduras, e o bônus ou o ônus por cada uma delas, na hora da colheita
E aprendi também que não é só calar, existe a hora de sair de cena, se poupar de acompanhar uma dor que vai vibrar em cada corda dum coração já tão combalido.
A saudade vai ser dura de suportar, mas será menos danosa que o estrago dos espinhos cravados, vagarosamente.
Melhor morte súbita que se ir morrendo um pouco a cada dia, largando tecidos necrosados e fétidos pelos caminhos trilhados.
Prefiro seguir vivendo até que a morte me surpreenda, que seguir morrendo, todos os dias, até o dia final.
[elza fraga]

"Não crie sofrimento
Pratique virtude
Seja senhor de sua mente"
[Bhuda]



QUANDO SE SABE MAIS DE 'A' DO QUE DE 'B'



Quando uma pessoa, qualquer pessoa, senta com você [e esse você é genérico!] para falar da vida de quem quer que seja, e você escuta, e você acredita, e você se assusta, e você leva o assunto a terceiros, quartos e quintos, fazendo uma corrente de maledicência, mesmo sem se dar conta do fato, mesmo sem malícia, apenas ouviu, acreditou e expandiu; 
você não se ateve ao fator mais importante nesse tipo de 'evento': 
O especialista em vidas alheias!

Se parasse pra pensar alguns minutos sobre o 'escutado', perceberia que soube bem mais de quem lhe falou do outro, do que do outro propriamente dito. Principalmente se quem foi o alvo do falatório nunca lhe separou de grupos, ou bateu na sua porta, para lhe dar o último boletim informativo da vida de quem quer que seja. 

Você descobriu, se parou para meditar os minutinhos indicados, que quem lhe levou fatos tem o péssimo hábito da maledicência [e aí entra inclusive fatos verídicos, pois a vida dos outros pertence aos seus donos, seja verdade ou seja mentira, qualquer informação a respeito de terceiros, que não estão presentes, demonstra o péssimo caráter de quem faz o feio papel de rádio corredor nessa vida já tão complicada]. Descobriu também que quem fala de quem está ausente, falará, com toda a certeza, de você, na sua ausência, pois maledicência é vício que precisa de muita força de vontade para ser combatido. Quem pode garantir que quem leva 'a' você não levará 'de' você?... Assuma o risco então e bola pra frente!

Descobriu também, além da maledicência, a inveja embutida, o despeito, o ressentimento disfarçado no "olha, menina, você não sabe da última!"

Quem conta fatos [ou - criativo - inventa], e enche a boca pra ruminar e vomitar vidas alheias, precisa de piedade, tratamento sério e levado à risca, remédios que não se vendem em farmácias e, o mais importante, uma boa dose de ajuda para se readaptar ao mundo.

Sei um mantra ótimo, costuma ajudar na cura se repetido todas as manhãs, logo ao se levantar da cama. Passo sem cobrar consulta:
_Só por hoje, Senhor, tentarei não falar nem mentiras nem verdades da vida dos meus companheiros de jornada, mesmo daqueles com os quais não vou com a cara e nem com o resto, mesmo dos que não me são simpáticos por motivos diversos... Só por hoje, Senhor!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

DIÁLOGO NA PRAÇA


(Verdadeira sabedoria infantil) 

Garotinha, mais ou menos quatro aninhos, me olha, para de brincar, se aproxima do canteiro central e lasca:
_ Como é seu nome?
Eu:
[abaixada tentado esconder folha amarelada e clicar só a flor, respondo]
_elza, e você?
Ela: 
[mastigando as sílabas, vagarosamente, pra lerda aqui entender]
_Gi-u-li-a. Mas o que você está fazendo com a folha?
Eu:
_Estou tentando esconder a mais feinha atrás da flor, só quero a flor.
Ela:
_Mas quer a flor pra fazer o que com ela?
Eu:
_Tirar uma foto.
Ela:
_Mas a gente só tira foto de gente, de festa de aniversário e de cachorro.
Eu:
[sem entender muito bem essa lógica]
_Eu tiro de flor também.
Ela:
[sem se deixar vencer]
_Mas não precisa, ela fica o dia todo aqui, é só você "vim" brincar na pracinha todo dia.
Eu:
[didática, rsrs]
_Não posso, por isso vou levar a beleza dela pra minha casa.
Ela:
_Sua mãe não deixa?... Eu arranco ela pra você levar, quer?
Eu:
_Não Gi-u-li-a, muito brigadim, prefiro ela com as irmãs, todas juntinhas. Fico só com a foto, já fico feliz.
Ela:
_Então tira uma foto de Gi-u-li-a, porque Gi-u-li-a não tem irmã pra ficar juntinha, e me leva também pra sua casa.
Eu:
_ Bem que gostaria, mas não posso tirar foto de criança na pracinha, e nem levar criança que tem mãe, avó, pra minha casa, a polícia me prende.
Ela:
_Mas a flor também tem mãe e vó. Não tem?... A polícia vai te prender?

Aí me quebrou, pergunta difícil não sei responder.
Pendurei a máquina, dei uma bitokita na testinha infantil da linda e sai de fininho...
Criança sempre me vence em debates, muita razão pra
pouca altura, hehe.

[Foto de Hortencia retirada da net,
sai antes de clicar a flor da pracinha, tentativa de preservar
a vida da mesma, mãos ávidas e infantis estavam prestes a
degolá-la para me presentear.
Criança tem sabedoria, delicadeza até no abate, rs, e não perdem uma sequer, sempre tem a última palavra!]