domingo, 31 de julho de 2016

RETRATO FALADO DE UM LEONINO



Leonino... Raça de gente diferenciada, detesta o mimimi da cambada que está no mundo só pra se rebelar e reclamar da vida.
Não interessa ao leonino se o dia está cinza ou azul, se vem vento do sul, se o sol está com crise de timidez, o que importa é que ele está no mundo e é sua vez de mostrar do que é capaz, e como mostra, rapaz! E como mostra!
Quando picado pela picardia amiga, se fecha em copas ou vira ostra, repousa na concha.
Mas quando incentivado por sorrisos alheios, ou por abraços, se desmancha e desata os laços do coração, e se doa, e se derrete, e se mete onde nem foi chamado.
Tímido, educado, cortês até demais, o leonino sabe, como ninguém, a que veio, e que essa vida pede delicadeza, mas muita firmeza pra aguentar os trancos e as despencadas nos barrancos.
Sabe também manter os chatos afastados, e se cercar do brilho dos privilegiados que entendem a sua mania de querer ser feliz a qualquer preço, não barganha, não pede desconto, não vive de pedinte enchendo o saco, e o juízo, da Dona Vida, pois sabe muito bem que não adiantaria e só desgastaria o seu humor, que isso, o humor - ele tem pra dar e pra vender.
E se há feridas, deixe que ele mesmo as lamba, ou as prense com o curativo do amor próprio... Não choraminga, não pede arrego, não se assusta com o andar da carruagem.
Apenas segue, autenticamente, genuinamente, transparente, balançando a juba e tratando a vida de igual para igual, pois entende, perfeitamente, que a vida só respeita a quem se dá ao respeito, e por saber se vira do seu jeito, sem peditórios.
E se tens um amigo leonino, aproveita e se ajeita bem por perto, ele é arisco, mas também esperto a ponto de saber reconhecer e valorizar os verdadeiros.
Como sei disso tudo? Sou leonina, satisfeita demais com a condição de ter nascido num agosto, não trocaria minha juba, meu desconforto, minha inquietude, minha ânsia de descobrir o horizonte, minha certeza de que tudo o que me fere me cresce, minha expectativa de que amanhã será um dia lindo; por nada que me doasse passividade, abrigo seguro, conforto e racionalidade, ou me fizesse mais carente, mais mendiga de afeto, menos forte, menos capaz.
E ser impulsiva também faz parte do pacote, ô, se faz!
[elza fraga]

sábado, 23 de julho de 2016

VIVER É LEVE, PESADA SOU EU.


Quando o fio / quase arrebenta / eu sorrio / para dentro / e me repreendo/ calma / que esse tranco / a alma aguenta.  ([elza fraga)
Viver é um ato que independe da gente, nascemos e estamos aqui, sem retrocessos para consertar buracos deixados pelo vento.
Quanto ao caminho, ah... esse é de nossa escolha, o fazemos com os passos, firmes ou nem tanto, mas a construção é nossa.
Se posso caminhar, vagarosamente, olhando a beirada da estrada, as flores no jardim, pulando as pedras que me interceptam a caminhada, por que pesarei o passo?
Alguns confundem leveza com tolice, falta de compromisso com a vida, emburrecimento - me acham oca? Talvez.
Não sou!
Viver independe da gente - certo - mas a construção do ser que somos é tarefa nossa, e apenas nossa.
Não é viver como fio solto, rindo até de batida de avião. É viver com a alma leve, sorrindo das peripécias do caminho. Tudo tem seu lado bom, tudo tem seu lado de aprendizado, tudo tem seu lado engraçado.
E vou leve, por mais que me achem sem conteúdo eu sei que o tenho. Aprendendo com a vida e com as pessoas, com a caminhada e com a espiritualidade, com o amor e com o desprezo.
Aprender é só acumulo de informação, é se preencher de conhecimento. Agora, viver é se preencher de sol, de céu, de sorrisos internos, de energia vinda da fonte, de natureza!
Por que iria colocar vinte pedras em uma mochila e sair por aí, carregando o peso extra, se posso deixar até a mochila em casa?
Viver não é uma prisão fechada dentro de conceitos, viver é a liberdade de respirar o ar que quero, onde bem entender, e, mesmo se a dor doer mais do que deve, saber que posso controlá-la, dominá-la, entendê-la e aceitá-la, como ela é, provisória como a vida.
Tudo passa, nós passaremos também, então que seja ouvindo a sinfonia dos pássaros e não o canto rude dos trovões.
[elza fraga]