domingo, 7 de outubro de 2012

NÃO GOSTO DE GENTE COM A CORDA QUEBRADA.




Não gosto de gente dúbia, ardilosa, que usa de subterfúgios pra fazer com nos enrolemos nos nossos próprios textos. Gente que não tem a lisura de ser objetivo, vive de subjetividade. Gente que se sente bem na vitimização própria.
Gente que vira o vento a seu favor roubando as velas do nosso barco. Ou até assume nosso leme quando nos distraimos numa olhada pro céu pra esticar beleza no olho.
Gente que quando faz besteira ou se embrenha nos enredos é incapaz de assumir, com humildade, com coragem, sem tentar passar a responsabilidade a frente.

Não gosto de gente grande covarde, que a maneira das crianças, choraminga quando não tem saida, não consegue se ver encurralado nas próprias omissões ou mentiras.
Não gosto de gente que usa o outro como desculpa ou testemunho, aumentando a corrente dos indecentes, dos incapazes de viver sua própria vida sem muletas.
Não gosto de gente que abandona por qualquer motivo, ou por nenhum motivo, só porque se acha mais triste que a tristeza do planeta. E justifica com seus males corriqueiros, que, no final, são igualzinhos a todos os outros, do mundo inteiro.
Não gosto de gente que não reage, não age, não luta, se encosta no tronco alheio como orquídea e até espalha beleza, mas só serve pra se olhar enquanto viça, depois que murcha perde a serventia.
Não gosto de gente que não ajuda, não estende a mão, não ora pelo irmão, não telefona nas horas necessárias, não chega junto e diz:
- Estou aí, pro que der e vier, sou seu amigo, seu parente, seu irmão, seu filho, seu pai,seu companheiro de jornada.
Não gosto de gente que rotula, julga e banca a santo, mas quando a coisa aperta pro outro lado, some, alega que de nada sabe.
Vê só o doente que lhe interessa, os outros, que nada tem a oferecer, podem morrer que não lhes faz nem diferença.
Não gosto de gente que só pensa em si mesmo, egoístas, armadores, doentes, com certeza, mas de uma doença que a ciência não descobre nem o nome!
Não gosto de gente que dá as costas aos problemas existentes no mundo, pois só os seus já estão de bom tamanho.
Não gosto de gente que acha que o mundo tem que lhe bater continência, suprir suas carências, girar em torno dele. E quando as coisas tomam outro rumo, deitam na cama, se desesperam, não assumem suas mazelas. Culpam tudo e a todos.
Não gosto de gente que só quer ouvir o que lhe interessa, particularmente. Gente que ainda não descobriu que somos todos elos da mesma corrente.
Não gosto desta gente, mas olha, minha gente, como tenho pena!

[elza fraga]

sábado, 6 de outubro de 2012

TEMPO É CASO SÉRIO


Site da imagem: overmundo.com.br
O tempo passou rápido demais! Ainda ontem era ontem, desperdício do tempo que se move, inquieto, sempre pra frente, não para pra olhar pra trás.
Hoje já é hoje caminhando pra amanhã.
E aposto que amanhã vai chegar com a
quela pressa malvada de não dar tempo pra tres respiradas de fundo de pulmão.

Acho que vou, definitivamente, me mudar para o futuro, se ele já estiver de porta aberta, detesto dar com a cara no muro!
O ruim do andar por estas terras de viventes é que não tem presente, só se pressente e, pumba, já passou e já é outro presente que zomba da gente e corre atrás do anterior.
Escutei um 'causo', num passado [que o tempo ou é passado ou já passou] do sujeito que espreitou o tempo numa esquina, por tanto tempo, tentando segurar só um pequenino momento, que cansou, se fechou num sono tão profundo, que foi o tempo que, sorrateiro, lhe pegou e prendeu no fundo dum ciclone louco, que corria os dias e noites sem parar, e ele conheceu cada lugar mais lindo que o outro, coisa até de endoidar olhar, até ele não achar mais graça e cansar, e pedir ao tempo, em desespero, pra parar em algum lugar, só pra ele saltar fora do tempo, mas o tempo parece que moucou e, nem assim, parou...

[elza fraga]

EXPERIENCIANDO



Andou o dia todo pela estrada poeirenta, ondulante, nem fome batia na barriga vazia. Sabia que era dura a empreitada, mas tinha escutado da mulher antiga que morava dentro dela que era possível, isso bastava.
E aí, já no final da tardinha, quando o sol descia morno por trás da montanha e quase sumia na risca do mar, ela chegou ao final da estrada. Não tinha mais pra onde andar r
eto, ou era subir ou voltar, estava na embocadura do céu com a terra. Resolveu num impulso: - "Vou subir mesmo que me falte o ar na empreitada".
Mas antes, pra se certificar de que não passaria por mentirosa se voltasse pra contar a história, levantou os braços e numa ousadia rasgou um pedaço do azul, ainda quentinho do sol batente, guardou nas dobras do vestido, respirou fundo todo o ar que conseguiu sugar pelas narinas e subiu o primeiro degrau...

[elza fraga]